Picasso e a presença angolana

Picasso e a presença angolana

 

Provavelmente o objeto deste artigo seja uma invenção minha. A visita aos Museus d' Artes d' África e d' Oceania e do Homem, em Paris teve em mim uma força revitalizadora inusual. Foi numa manhã úmida e o ambiente escuro das salas, o cheiro de ontem e a geometria daquelas vitrines não podiam passar desapercebidos. A memória tem peças tão apaixonantes como o esquecimento, armadilhas tranquilizadoras, reconfortantes.

Entre a rua Armand Rousseau e a avenida Dausmenil, o Museu d' Artes d' África e d'Oceania tem uma fachada bela e trágica: uma série de elefantes aparece num baixo relevo, considerado o maior da Europa e esculpido por Janniot, com barcos, florestas e "selvagens", alegoria dos viajantes que se converteriam em colonos.

Penso que depois de tudo é sempre bom puxar a brasa para nossa sardinha e tratar de encontrar naquilo que é relevante da Arte Internacional indícios da prèsence angolaise: Picasso e as primeiras vanguardas européias de princípios do século XX não podiam escapar ao seu contexto histórico e a sua magia.

Em Paris e vendo aquilo que, pelo que creio, Picasso pode ter visto, decidi reinventar a história, construir um dos cenários possíveis daquele ambiente agitado e de muita criatividade. Decidi pôr-me na pele daqueles artefatos e narrar o quanto foi atraente ser visto pelo Pablo, o pintor de Málaga e das "Senhoritas de Avignon". Decidi escrever o que Viteix não escreveu podendo fazê-lo e, de uma vez por todas, distanciar-me do olhar epidérmico de muitos.

 

 

Adriano Mixinge, historiador e crítico de arte, é funcionário da Embaixada de Angola em Paris.

Em princípios do século XX, os portugueses ainda não tinham chegado a todos recantos de Angola, mas as obras de arte angolanas - nem os termos, nem os conceitos, na altura, podiam existir - ou, seja, os artefatos culturais de algumas etnias de Angola já tinham viajado dos seus lugares de origens a alguns museus europeus e, embora pese serem considerados objetos etnográficos? um olhar estético, ainda que superficial, exótico mas reconfigurador começaria a impôr-se ao eurocentrismo. Nem sempre alguns dos artefatos culturais que hoje designamos artísticos foram sempre assim considerados. O fato de que a arte tanto como conceito e como instituição tenham sido, digamos, "geneticamente" de origem ocidental, na verdade, provocou que europeus - de forma prepotente e indiscriminada - se
arrogassem o direito de escolher e determinar aquilo que podia ou não ser arte.

 

Quando Picasso viveu em Paris, para que um objeto de uma cultura outra que não a cultura ocidental fosse considerado artístico - e, claro, se no seu país de origem ainda não houvesse o circuito para tal - tinha que viajar à Europa e, então aqui, dentro das suas instituições artísticas ser legitimado como tal. Neste sentido, a bela reedição do livro la escultura negra y otros escritos (Barcelona: 2002), de Carl Einstein, revela-nos dados sobre a altura em que, julgamos, pela primera vez, objetos de origem angolana foram considerados como arte, no sentido atribuído pelos europeus e sem qualquer tipo de desprezo ou hierarquização cultural.

Indo aos fatos: em 1915, logo depois do início da Primeira Guerra Mundial e muito antes que existissem museus em Angola - estes só surgiriam nos anos 30 -, Carl Einstein publicou Negerplastik (Escultura Negra), com base em objetos seus e nos da coleção particular do escultor húngaro Jozsef Brummer - um dos primeiros a ter, no Boulevard Raspail, em Paris, uma loja de objetos africanos - e que veio influenciar os artistas plásticos das, na expressão de Mario de Micheli, primeiras vanguardas artísticas do século XX, entre os quais encontravam-se Pablo Picasso, Fernand Leger, André Derain, Georges Braque e Henri Matisse, entre outros.

 

 

 

 

"Totem", pintura de Álvaro Macieira, em acrílico sobre tela, fez parte da exposição "Metaforas Angolanas", em Paris.

 

O que reputamos de curioso na publicação do livro de Carl Einstein é que, entre as 111 imagens que o livro trouxe encontram-se quatro esculturas tradicionais de origem Bakongo e Cokwé, respectivamente, e que o autor, na sua reedição de 1920 já sob o título de Afrikanische Plastik (Escultura Africana), reconhece serem provenientes de Angola.

Ao contrário daquilo que podia parecer já um dado obtido, a saber, o fato de que Picasso e os Cubistas viram, pela primeira vez, objetos africanos no depósito do Museu do Homem, no Trocadero, de Paris, o certo é que quando em 1930 reuniram-se 290 objetos africanos e 137 objetos da Oceânia, numa exposição na Galeria Pigalle, o museu do Trocadero só emprestou quatro deles, já que, segundo Liliane Meffre, estes objetos praticamente não existiam aí.

Queremos pensar que Picasso e os vanguardistas viram os objetos africanos através das coleções privadas e que, dentro daquele volume de imagens, terão visto, também, imagens de origem angolana.

 

A presence angolaise em Paris dos anos 20 é extremamente importante porque, aí, Carl Einstein defenderia o caráter artístico dos objetos da arte africana sobre a qual diria: "(...). A arte africana oferece realizações plásticas, ornamentais e pictóricas que justificam pô-Ia ao lado de qualquer Arte. (...) ela deve ser admitida sem restrições no âmbito das investigações artísticas". A presence angolaise em Paris é dessas invenções que necessitamos reinventar constantemente, de Mario Pinto de Andrade a Edilo Makele, de Bonga a Lulendo e de Viteix a Lundangi.

 

 

 

 


Arte & Cultura 

Montagem: Valdomiro Santana Junior

Se desejarmos compreender a expressão artística africana, precisamos nos reputar as reflexões da alma humana em sua busca pela essência das coisas, tão "subliminarmente" contidas na simplicidade destas, seja, um pedaço de madeira, pedra, marfim, metal, etc. Objetos feitos de materiais naturais embutidos de valores arquetípicos que velam o seu simbolismo. Apenas um olhar e a audição puros, não serão suficientes para extrair-lhes os significados implícitos nas obras Africanos. São obras que estimulam a imaginação e nos remetem a leitura de outros universos, uma linguagem primordial inerente à natureza que expressa o elo de comunicação com o infinito. Nos introduz a reflexão e se nos despirmos das sofisticações do nosso tempo poderemos mergulhar num instante imemoriável pois, nos impõe seu caráter postulante e empírico implícitos na excitação exterior de suas formas.

O virtual é como o corpo, um elemento intermediário entre a essência de sua significação e sua representação física na forma. O elemento virtual, a imagem, representa esse conteúdo essencial e cumpre muito mais com o que se espera abstrair por exemplo num trabalho artístico. A arte espontânea que brota na simplicidade desse povo em suas várias concepções, velam o aspecto que nos intriga inconscientemente, enquanto buscamos abstrair a essência, nos restam apenas a intelecção e beleza. 

Obras cuja natureza evoca uma metafísica, suscitando atender a parte mais ínfima, orgânica e complexa da psique que lhes representam "bens de ordem moral, política e cultural". Uma clara expressão de respeito aos valores naturais e ambientais, concebidos como "bens da alma", emergem da terra - Mãe África.

Segundo Sócrates: "A alma não consegue encontrar a verdade através do corpo, pois é enganada por ele, que a induz ao erro". 

Em Aristóteles: "A alma é todo o princípio vital de qualquer organismo, a soma de seus poderes e processos". Representada nas plantas é meramente uma força nutritiva e reprodutora, nos animais, é também uma força sensitiva e locomotora, no homem, é também a força da razão e do pensamento (Anima). Como soma das forças do corpo, não pode existir sem ele, e os dois, separáveis apenas em pensamento, mas na realidade um todo orgânico, porquanto ela não é algo possível de ser colocado no corpo. A alma é singular, não é material, e nem morre por inteira, uma parte de seu poder tracional passiva vinculada à memória morre com o corpo, mas a "razão ativa", o puro poder de pensamento, é independente da memória, não sendo tocado pela decadência. A razão absoluta, ativa, universal, se distingue do elemento individual, o homem, pois a personalidade não sobrevive com suas afetações e desejos, mas a mente em sua forma mais abstrata e impessoal. Julgo que isso explica o que é a força de uma tradição.

Aristóteles postula que: a criação artística, nasce do impulso formativo e da ânsia pela expressão emocional. Na essência, as formas de arte são imitações da realidade; vira-se o espelho para a natureza. O homem manifesta um prazer na imitação, que aparentemente falta nos animais inferiores (ao mesmo tempo em que sente necessidade do "ritualizar a vida"). No entanto, o objetivo da arte é representar não a aparência externa das coisas, mas seu significado interno porque constitui sua realidade. Falar ao intelecto e aos sentimentos, representa sua estrutura. Daí uma obra deve visar à forma e acima de tudo à unidade, que é a espinha dorsal da estrutura e foco da forma. A obra pretende cumprir uma função de catarse, purificação: como emoções acumuladas sob alguma forma de pressão, no teatro por exemplo: a tragédia "através da piedade e do medo, realiza a purgação adequada dessas emoções". 



Arte de Angola

A arte Africana como um todo exerce um papel importante na cultura pelo enfoque religioso, social e político. A preocupação voltada ao caráter social ganha força na tradição, um processo de respeito ao passado. A maior parte das obras tradicionais reverenciam os ritos culturais expressos pela reflexão de conflitos temporais, vida e morte, passagem da infância para a maioridade, celebração da colheita , estações de caça, pesca, religião. A maioria dos objetos desempenham uma função genérica de contribuir com a ordem, estabilidade, segurança e promoção do restabelecimento destas. Obras de cunho político incluem retratos de reis, tronos e objetos da realeza, ou seja, obras relacionadas com o exercício do poder enquanto sociedade hierarquicamente organizada.

A arte angolana utiliza materiais como: madeira, bronze, marfim, malachite ou médio cerâmicos. 

Cada grupo ethno-linguístico em Angola tem sua própria expressão artística. 

O pensador de Cokwe é um ícone dentro do seu contexto.

 

 

 

Na parte oriental norte em Lunda-Cokwe, destaca-se as artes plásticas superiores.

Outros ícones da arte angolana:

• A máscara feminina Mwnaa-Pwo usado por dançarinos masculinos nos rituais de puberdade em seu território.
• Máscaras de Kalelwa policromáticas, usadas durante cerimônias de circuncisão. 
Cikungu e Cihongo máscara que evocam as imagens da mitologia de Lunda-Cokwe

Duas figuras de chave neste panteão são:

• A princesa Lweji e o príncipe Tschibinda-Ilunga, civilizadores. 

• A arte cerâmica preta de Moxico do centro-oeste de Angola. 

A história das formas artísticas das formas naturalistas às cúbicas abstratas revelam um intercâmbio entre as culturas que ultrapassam o continente africano, porquanto a comercialização da arte africana com o espaço mediterrâneo, Europa, Arábia e o subcontinente Indiano, deixaram vestígios na arte da África que, na virada do século XIX para o século XX, como se pode observar nos acervos de museus de Berlim ou Paris, exerceu uma influência decisiva sobre a evolução da arte moderna européia.

A visão de mundo de muitas culturas africanas não conhecem apenas o mundo dos vivos. A idéia de um "mundo paralelo" que se comunica no plano da manifestação por um breve lapso de tempo e retorna a sua origem após a morte, é um fato a priori sobre o qual distingui o processo criativo da cultura africana, assim como em noutras culturas. 

As relações entre esses planos de consciência são imanentes no fator psíquico humano de existência, "manifestação" mundo real e concreto, e seus desdobramentos na dicotomia das polaridades, luz sombra, bem e mal, vida e morte, encerradas no inconsciente humano, narrados em seus mitos no esforço de cumprir com uma "tradição",  repasse da cultura de seus primórdios, daí o caráter educativo-cultural-religioso. 

A ênfase é representada por figuras de antepassados, estátuas de poder do "outro mundo", estátuas de gêmeos ou de fertilidade, além de objetos de função cotidiana. 

Na busca pelo divino o ser humano precisa lidar ao mesmo tempo com o mundo real, em decorrência da conscientização influi no comportamento no que se pressupõem existir entre o plano visível e o plano espiritual. O africano, geralmente acredita que Deus não opera sozinho, pois estaria ocupado demais para faze-lo, e compreendem que as entidades nas quais acreditam trabalham para Deus, e que se lutarem contra essa manifestação espiritual não seriam dignos da proteção ou respeito dos espíritos que os chamam, pois estariam lidando com forças que desconhecem. Eles se deixam penetrar pelos espíritos na busca por uma segurança maior, alguma garantia de sustentação de sua saúde, de seu caminho de vida, de seus valores materiais, morais, políticos e emocionais, e reagem ao "chamado espiritual" numa mescla de respeito e medo às ameaças inerentes na vida. Ora, independente de primordialidade e contemporaneidade, tais aspirações são suscitadas pelos seres humanos de qualquer lugar do planeta. Uma postura primordial, encerrada na psique do homem em tudo que possa representar o desconhecido, observado em todas as culturas em sua história original. 

Quero acrescentar que, o processo de globalização, tão primordial em sua essência, nunca poderia esperar até nossa "contemporaneidade" uma completa desmistificação da natureza pelo homem, enquanto não se imbuir do respeito necessário aos valores tradicionais; se um esforço de organização e compreensão das culturas universais objetivarem uma unidade. Há que se contribuir com o respeito as diferenças, antes de assistirmos o mundo suplantar meramente necessidades capitais, o que seria por exemplo do turismo?

Máscaras

Como as máscaras de madeira e estátuas da África cresceram em popularidade no Oeste, a indústria de habilidade manual em Angola buscou conhecer a demanda para arte africana. As máscaras estilizadas e quinquilharias que são criadas para seduzir o olhar do turista são geralmente conhecidas como "arte de aeroporto." Eles são pedaços produzidos em série, para o gosto do turista comum, mas faltam qualquer real ligação às subcorrentes culturais mais fundas circunscritas em sua vivência. 

Um dos mercados de habilidades manuais maiores em Angola é o Futungo comercializam, há pouco sul de Luanda. É o centro principal do comércio de habilidade manual para turistas e expatria. A maioria dos comerciantes de habilidade manual é Kikongo, embora os artesãos que eles saúdam sejam de muitos grupos ethno-lingüísticos diferentes. Futungo também tem a vantagem somada de estar perto das praias bonitas para o sul de Luanda onde muitos dos residentes passam os fins de semana desfrutando o sol e areia da baía de Mussulo. A viagem para mercado de Futungo pode ser uma aventura. Comerciantes organizam freqüentemente os músicos para que toquem instrumentos tradicionais, como as marimbas e kissanges, xingufos (antílope grande corneia) e tambores para dar um ton de festival de aldeia. Homens se vestiam como guerreiros, roupas cansativas de antílope e puma, colares de conchas e chocalhos nos tornozelos, incrementam o sabor local do mercado. 

Quanto a Arquitetura, uma excursão virtual aos edifícios históricos de Angola revela a influência colonial do português na arquitetura angolana. Características comuns achadas em edifícios e casas ao longo do país são evidências da influência que tem sua origem no séc. XV, quando Diogo com caravelas de Coís ancorara no Reino do Kongo. Missionários, carpinteiros, e pedreiros estavam entre os primeiros colonos durante o tempo da chegada portuguesa para a região. Os colonos reproduziram o estilo português de arquitetura em todos os fortes, igrejas, edifícios e casas que eles construíram. Estas estruturas estavam compostas de pedra, ferro e madeira e foram construídas para sobreviver ao tempo severo do litoral, são testemunhos do desígnio arquitetônico angolano com belos trabalhos de carpintaria estilos que ainda permanecem populares como muitos dos edifícios novos que refletem os mesmos desígnios históricos. 

Os Instrumentos Musicais pertencem, assim como as máscaras, ao âmbito das artes performáticas e da dança. A reunião entre o Português, Angola e Brasil, nas viagens por mar do séc. XVII, montou uma troca entre pessoas da península ibérica e o Amerindians que deram origem ao "Fandango' uma dança espanhola popular que surgiu a cerca de 1769. Evidência sugere que os espanhóis aprendessem uma dança do Amerindians em Fandango de Sevilha onde a música Oriental já tinha feito sua marca, graças aos mouros e os Ciganos. No Décimo oitavo século, surge o fandango, o brasileiro dança fofa e lundu, em Lisboa. "No décimo nono século, o fado sofre uma transformação nas palavras de Jose Ramos Tinhorão, enquanto se muda das tavernas e corredores, para se tornar uma canção. 

A prática da Dança desde os tempos imemoriais sempre foi um poderoso meio de expressão do homem, era exercida como um sacerdócio, pois lhes serviam para coloca-los em contato com as forças superiores da natureza e as entidades que as governam. Fundida aos rituais religiosos evocam desde espíritos às raias da licenciosidade. O homem dançou em louvor da procriação, do nascimento e morte; da puberdade ao casamento, do que, enfim, englobava os atos biológicos de sua vida. Dançou para agradar aos deuses frente a epidemias, fomes, flagelos por que, assim, segundo a sua crença, esse seria o meio mais profícuo para aplacar a ira das divindades e afastar as ameaças ao bem estar coletivo. Dançou pelo triunfo do amor, vitórias em guerra, caçadas e colheitas, sempre acompanhadas de cânticos muitas vezes de linguagens desconhecidas, a não ser para os iniciados nos mistérios. Arrebatada de emoções, heranças de seus ancestrais, seus deuses, suas indumentárias e objetos sagrados, seus segredos cabalísticos, exercem um fascínio contagiante entre seus participantes e visitantes, a mercê do destino também foram exportadas e influenciaram várias culturas.

Ao migrar para o Brasil, por exemplo: os Bantus influenciaram o ritmo Carimbó (Região do Pará), uma criatividade artística dos índios Tupinambás, misturou-se em seus contrastes, criando ritmos mais agitados e sincopados introduzidos pelos africanos e ritmos que foram assimilados também nas coreografias. O Carimbó ficou conhecida como dança que limpava bancos onde ninguém ficava sentado por muito tempo. O curimbó (depois Corimbo enfim Carimbó) no Brasil é formado por: curi= pau oco e m'bó= furado, assim, o pau que produz som, concebidos num tambor de som grave e outro menor para o som mais agudo, que interessantemente são tocados com o músico sentado sobre esses tambores. Depois, foi introduzido o reco-reco feito de bambu, o ganzá feito de tubo com bolinhas ambos de metal, um banjo servindo de sustentação sonora para a dança, a flauta, o pandeiro grande e dois maracás feitos de cuia. O Retumbão, festividade em devoção a São Benedito em Bragança, por volta de 1798, deu origem à Marujada, marcados por dois tambores tão fortes que "retumbavam" e eram ouvidos de longe, Armando Bordalho da Silva (brasileiro) afirma que a dança é o próprio Lundu. O Lundu (origem africana) no Brasil, é possivelmente a dança mais carregada de sensualismo, em outras modalidades também conhecida como "dança de roda" , na região do Pará, os parceiros desenvolvem uma coreografia de movimentos lascivos e lúbricos que sugere o convite a um ato sexual, a vestimenta é curta e exibe a barriga, o acompanhamento instrumental é idêntico ao exigido para a dança do Carimbó se distingui por sincopas agitadas.

O Lundu nos recentes 1770 é uma dança conectada a de Kaduke Mbaka (Angola), e deu origem a um das danças mais populares em Luanda que é conhecido sob o nome de "barriga-dança" de masemba (o plural de semba), a característica é que os pares toquem empurrando os umbigos adiante. É uma dança erótica que os escravos levaram para o Brasil, adaptando a reunião social a condições econômicas. 

A palavra Lundu vem de kilundu que de acordo com Antônio Assis Junior significa "espírito, enquanto sendo do mundo invisível", a qual Cordeiro de Mata se refere como "um ser sobrenatural que guia o "destino do homem". O diminuto desta palavra é Kalundu, palavra de expressão popular que: para estar com o kalundu, é como uma experiência de êxtase e entusiasmo chegando a loucura.

No Brasil a união entre o português, o negro e uma parte da cultura de ameríndio com o ritmo angolano, kaduke/semba, traduzido à samba, é uma expressão controversa. Liceu Vieira Dias diz que "samba é kaduque". Semba e Masemba são um e o mesmo. Semba é singular, e Masemba, indica o plural. Samba é unido diretamente a Masemba e Semba. Samba é o infinitivo de kuzamba (rezar), era natural que os escravos pedissem a Deus que os levassem de volta à pátria. Assim eles usaram o termo semba que confundiram com samba, que era rezar, implorar e se declarar com Deus, na forma de dança étnica e música, como era comum em todo povo primitivo. Os senhores de engenhos achavam que era alguma atividade social e não um ato religioso. Isto era como um ato religioso e chegou a ser associado a um festival. 

Concebendo a influência européia nesse contexto, segundo a Mitologia Grega, o carnaval festejado aos redores do mundo compara-se as Saturnais, que era o tradicional festival dedicado ao deus Saturno (Cronos) senhor do Tempo durante a Era de Ouro da humanidade, cujo festejo durava 3 dias e os senhores serviam os escravos, não podiam condenar, julgar, nem prender ninguém durante esse período, o festejo consagrava a boa colheita, a fartura e comemorava o sucesso da estrutura social-política que estão sob os auspícios desse deus, miticamente representa o nosso sentido interior de ordem e disciplina.

Segundo Mario Rui Silva, músico angolano e investigador, a música angolana teve uma influência na música da América Latina e o Caribe durante algum tempo, mas só recentemente começou a fazer um nome para si mesmo com outras audiências internacionais. Mas, para realmente investigar o passado musical de Angola deve-se ir fundo em suas raízes históricas. 

No passado, o grupo de Bantu migrou do Norte para Sul até que eles alcançaram a região que é hoje Angola, enquanto os Koisan e as pessoas de Vatwa que falavam um idioma caracterizado, eram empurrados para o Sul. Até que Diego Cão alcançasse a boca do rio Zayli em 1482, o Reino poderoso do Kongo cujo dialeto Kikongo já tinha sido estabelecido. O que poderia ter sido uma amizade mútua se degenerava na injustiça maior na história: escravidão. Isto privou a região do Kikongo dos homens jovens mais fortes rapidamente. Mais tarde, os portugueses deslocavam-se para o Sul, até Kwanza, em 1560, dirigidos pela ambição, para chegar às minas prateadas famosas de Kambambe

Enquanto a música era escrita na Europa, nós não conhecíamos qualquer contagem escrita pelos padres que chegaram nas caravelas, com a cruz em uma mão e a espada na outra. Em 1568 e 1569, as pessoas de Jaga passaram ao território do Kongo. Travaram lutas violentas. Um grupo deles se instalou na região de Kasanji, perto de Mbaka, enquanto outros encabeçaram o Sul. Nós não podemos estar seguros em que grau o Jagas influenciou o idioma de Kimbundo, nem até mesmo os efeitos musicais deles estavam usando a cultura Mbaka que é o bastão daquele idioma. 

O explorador Paulo Dias de Novais chegou em Angola e fundou a cidade de Luanda. Seu porto era a saída para os escravos rumo à América, assumindo o papel do qual previamente tinha sido a cidade de porto Mbinda. Eles levaram uma rica cultura musical. Movimentos étnicos já tiveram sido antes daquele tempo regulado por bordas, marcado pelas várias zonas lingüísticas. O holandês chegou a Angola em 1641. A ocupação originada por Van-Dunem e a familia Vieira Dias, entre outros, que se distinguiram no campo da música, como também em outras áreas. 

As pinturas de Cavazzi no séc. XVII descrevem instrumentos musicais como o dikanza, ngoma, marimba, kisanji e clochas (dobrar-sino); instrumentos tradicionais que foram feitos pelos músicos e ainda são achados entre as pessoas de nossa região. Instrumentos angolanos podem ser divididos nos seguintes grupos: 

Instrumentos que fazem barulho independentemente por percussão (idiophonic) 

Percussão instrumental (membraphonic) 

Instrumentos de vento (aerophonic - por exemplo, trompetes) 

Instrumentos de fio (cordophonic) 

Instrumentos de folha.

 

 

BIBLIOGRAFIAS 

 

Abstract da visita a 

_ Exposição "Arte da África" realizada no Rio de Janeiro

patrocinada pelo Banco do Brasil e Ourocap.

Valdomiro S. Junior

 

- A África Central até as 1870, David Birminghan 

- Fado, dança de Brasil, cantando de Lisboa, o fim de um mito, Jose Ramos Tinhorao (1994) 

- Ethnics e culturas de Angola, Jose Redinha (1974) 

- Tradicional e música de acculturated do Rei de Angola, Gerard Kubik (1970) 

- A família de "musseques" Luanda, Ramiro Ladeiro Monteiro (1973)

 

 

O PENSADOR



          A peça designada Pensador, é uma das mais belas esculturas de origem Cokwe, constituindo hoje o referencial cultural inerente a todos os angolanos, visto tratar-se do Símbolo da Cultura Nacional. Olhando para esta escultura, misturam-se os sentimentos mais diversos e, tentar exprimir a emoção que ela provoca, a estética que lhe é intrínseca, sugere interrogar como admirá-la: se com olhar de alguém endógeno ao grupo que assumiu como símbolo da sua cultura, ou se admirá-la como alguém capaz de livremente interpretar a sua estética e tecer opiniões a respeito. 
          As premissas interligam-se e prevalece a importância de perceber o Pensador no seu contexto, não perdendo de vista que, quanto melhor se conhece esta peça, melhor se poderá falar dela e novos elementos de análise vão surgindo. 
          Ela representa a figura de um ancião, que pode ser uma mulher ou um homem. Concebida simetricamente, face ligeiramente inclinada para baixo, dimana um subjetivismo intencional. 
Em Angola, os idosos ocupam um estatuto privilegiado. Eles representam a sabedoria, a experiência de longos anos, os conhecedores dos segredos da vida. 
          A dinâmica emprestada a esta peça reflete o alto conhecimento e a intenção estética do seu autor(anónimo), que foi capaz de lhe conferir o equilíbrio do gesto calmo, tranqüilo, sereno e a harmonia da mensagem mais ou menos enfatizada na utilização dos espaços abertos e fechados, de tal maneira humanizada, que acreditamos por isso estar em presença de uma das mais belas obras de arte jamais concebidas. 
          Esta peça trata-se do segundo estudo escultórico elaborado a partir do original, furtado das coleções do Museu Nacional de Antropologia, por acções de pirataria de arte. 
          Na sua expressão, podemos ainda ver retratados as tensões, o ritmo, o movimento que a referencia à sua escola criadora - A Escola Cokwe - escola tradicional desenvolvida ao longo de muitos séculos.